Na última quinta-feira, 10, reunidos na quadra do GRES Andanças de
Ciganos, os representantes de mais de 500 agremiações folclóricas
anunciaram que estão realizando um abaixo-assinado para enviar ao
governador José Melo, ao prefeito Artur Neto, ao presidente da ALE,
deputado Josué Neto, e ao presidente da CMM, vereador Bosco Saraiva,
solicitando que o Festival Folclórico do Amazonas seja reconhecido como
patrimônio cultural de natureza imaterial do Amazonas e de Manaus.
Os grupos folclóricos de Manaus reúnem mais de 80 mil pessoas. Nos
diversos municípios amazonense existem mais de 3 mil grupos folclóricos,
totalizando quase 200 mil pessoas envolvidas diretamente com essas
manifestações culturais.
A exemplo de Manaus, os grupos folclóricos dos municípios também se ressentem de um maior apoio e incentivo dos órgãos públicos.
A ideia dos grupos de Manaus é que essa iniciativa seja replicada em
cada município, como forma de valorizar e preservar a nossa autêntica
cultura popular.
Participaram da reunião, como representantes da classe política, o
deputado Adjunto Afonso, o secretário municipal de Cultura, Bernardo
Monteiro de Paula, e os vereadores Arlindo Jr., Rosivaldo
Cordovil, Ednailson Rozenha e Terezinha Ruiz.
Os representantes das agremiações folclóricas não mediram palavras
para denunciar o descaso com que vem sendo tratado o cinquentenário
festival (que terá sua 58ª edição este ano), chegando ao cúmulo de, no
ano passado, ter sido realizado em agosto. E apontaram o nome do
principal culpado pelo atual estado de coisas: o matusalém secretário
estadual de Cultura, Robério Braga, há 18 anos no cargo.
“Esse cidadão [Robério Braga] não gosta de cultura popular. Ele quase
acabou com o carnaval amazonense. Agora, ele está quase acabando com o
Festival Folclórico do Amazonas”, avisou Ivo Moraes, sendo
delirantemente aplaudido pela multidão presente no evento. “Ele gasta
verdadeiras fortunas com festivais de ópera, cinema e jazz, mas tem um
verdadeiro desprezo pelas nossas raízes culturais. Apesar de estar
investido em um cargo público, esse cidadão {Robério Braga] se comporta
como um senhor do engenho que quer manter os artistas locais confinados
na senzala.”
O discurso de Ivo Moraes foi interrompido pelos gritos de “Fora,
Robério! Fora, Robério!” entoado incessantemente pela multidão. Os
representantes políticos não esconderam o constrangimento por aquela
manifestação espontânea de quase 600 pessoas presentes na quadra dos
Ciganos.
Durante seu discurso, Adelson Cavalcante, o “Adelson da Ciranda”,
anunciou a presença na plateia do incansável Zé de Cima, que há 50 anos
participa do Festival Folclórico do Amazonas e é considerado uma lenda
viva entre os folcloristas. “Esse homem [Zé de Cima] merece respeito.
Ele não pode ser tratado como um mendigo pedindo para apanhar as
migalhas que caem no chão da mesa dos poderosos”, detonou, sendo
bastante aplaudido.
Além do reconhecimento do Festival Folclórico do Amazonas como
patrimônio cultural de natureza imaterial, Adelson quer que seja
construída a Cidade do Folclore, com local fixo para apresentação dos
grupos, galpões para confecção de fantasias e adereços, e um museu sobre
o folclore do Amazonas permanente aberto para a visitação pública.
Histórico do Festival
O Festival Folclórico do Amazonas teve seu início em 21 de junho de
1957, no Campo do Quartel 27 B.C., Estádio General Osório, no centro
histórico de Manaus, por iniciativa do jornalista Bianor Garcia.
Desde o início, o festival reuniu diversas danças folclóricas de
bairros de Manaus, contribuindo para difundir a cultura popular do
Amazonas, por meio dos bumbás Mina de Ouro, Corre Campo e Tira Prosa e
pelas apresentações de cirandas, danças nordestinas, quadrilhas, danças
regionais e tribos.
Até a década de 70, o festival era apresentado local hoje ocupado
pelo Colégio Militar. Com a construção do colégio, em 1979, as
organizações dos eventos procuraram um novo espaço para abrigar a festa.
O festival passou a ser apresentado em diferentes lugares: Parque
Amazonense, Estádio da Colina, Estádio Vivaldo Lima (Vivaldão).
Em 1979, com a fundação da Associação dos Grupos Folclóricos do
Amazonas (AGFAM), com o presidente fundador Carlos Magno Duarte de
Souza, a festa foi levada para a Praça Francisco Pereira da Silva, “Bola
da Suframa”, com apoio da Secretaria de Estado de Cultura.
O novo local agradou a todos, pois possibilitou a manutenção das
características originais do evento: a de um grande arraial, com
barracas, parque de diversão e muitas outras atrações.
Depois disso, com a construção do Sambódromo, o festival ainda passou
a ser realizado no local, na área denominada ferradura. O evento
voltou a ser apresentado na Bola da Suframa até que o governo de
Amazonino Mendes optou por construir no local o Memorial da Amazônia. Na
época da construção, o festival voltou a ser apresentado no Sambódromo.
Em 2003, no governo de Eduardo Braga, o Memorial da Amazônia foi
adaptado e passou a receber o nome de Centro Cultural Povos da Amazônia.
O Centro Cultural é dotado de uma grande arena medindo 60×90 m,
arquibancadas para um público de 15 mil pessoas, banheiros amplos e
fixos e a praça de alimentação. O festival passou a ser apresentado na
arena.
Patrimônio cultural
A Constituição Federal de 1988, em seus artigos 215 e 216, ampliou a
noção de patrimônio cultural ao reconhecer a existência de bens
culturais de natureza material e imaterial e, também, ao estabelece r
outras formas de preservação – como o Registro e o Inventário – além do
Tombamento, instituído pelo Decreto-Lei nº. 25, de 30/11/1937, que é
adequado, principalmente, à proteção de edificações, paisagens e
conjuntos históricos urbanos.
Os Bens Culturais de Natureza Imaterial dizem respeito àquelas
práticas e domínios da vida social que se manifestam em saberes, ofícios
e modos de fazer; celebrações; formas de expressão cênicas, plásticas,
musicais ou lúdicas; e nos lugares (como mercados, feiras e santuários
que abrigam práticas culturais coletivas).
Nesses artigos da Constituição, reconhece-se a inclusão, no
patrimônio a ser preservado pelo Estado em parceria com a sociedade, dos
bens culturais que sejam referências dos diferentes grupos formadores
da sociedade brasileira.
O Patrimônio Cultural Imaterial é transmitido de geração a geração,
constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu
ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um
sentimento de identidade e continuidade, contribuindo para promover o
respeito à diversidade cultural e à criatividade humana.
É apropriado por indivíduos e grupos sociais como importantes
elementos de sua identidade, mas isso o longevo secretário estadual de
Cultura ainda não sabe…//(Simão Pessoa)
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