sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

NEM TUDO É CULTURA!


Paulo Irineu Barreto

A afirmação de que não é possível estabelecer juízos de valor aos assuntos referentes à cultura é cada vez mais difundida nos dias atuais. Tal afirmação, no entanto, esconde muitos preconceitos e falácias. Um dos equívocos mais graves deste tipo de afirmação é a idéia de que todo comportamento dito cultural é uma manifestação espontânea e legítima do conjunto de tradições e hábitos de uma determinada sociedade. Seria um erro negar esta afirmação por completo, como também é um erro aceitá-la na sua totalidade.

Uma sociedade pode incorporar no seu caráter (ethos) uma série de comportamentos socialmente prejudiciais e até mesmo ilícitos que poderiam, facilmente, ser confundidos com expressões legítimas. É correto, por exemplo, afirmar que o carnaval tem raízes históricas e, no caso específico do Brasil, é uma fonte muito rica de traços de nossa cultura “pluriétnica” que foram incorporados a este evento ao longo de décadas. Isto, no entanto, não transforma em manifestações culturais legítimas todos os abusos cometidos e perpetuados em nome do carnaval, como, por exemplo, o “bombardeio” feito pela mídia que massifica a festa, tornando-a quase que uma necessidade para todos. Este “bombardeio” banaliza a sexualidade, estimula o consumo exagerado de bebidas alcoólicas e impossibilita a formação de um senso crítico, promovendo episódios como o ocorrido em Salvador – Bahia, no dia 29 de janeiro de 2008 (ver links abaixo), em que muitas pessoas foram pisoteadas ao tentar trocar alimentos por ingressos para os desfiles.

Que tipo de força seria capaz de convencer as pessoas a saírem de suas casas e se submeterem a uma situação dessas, se não o “ataque” que, há muito, elas sofrem daqueles que se dizem (e se sentem) representantes e detentores da cultura, os meios de comunicação de massa? E foram estes mesmos que colaboraram para que essas pessoas se tornassem incapazes de discernir sobre o que é melhor para elas. Na tentativa desesperada de obterem um pouco de prazer, encontram mais sofrimento e dor. O antídoto para este desespero é a Educação, mas esta ainda não é a prioridade maior e não conta com o mesmo marketing agressivo.

Outro exemplo é o da adaptação brasileira do reality show “Big Brother” (expressão proveniente do livro 1984, de George Orwell), apresentado pelo jornalista Pedro Bial, no qual é feita uma “glamourização” do descompromisso e do descaso. A vida de uma dúzia de pessoas “confinadas” em uma casa luxuosa transforma-se em diversão para os que estão sentados em suas poltronas nas noites “globais”. O problema do programa está tanto no seu conteúdo, pois valoriza o que há de pior: a degradação dos hábitos; quanto na sua forma, que transforma os participantes em meros meios, entre si, e para enriquecer ainda mais os cofres da Rede Globo de Televisão e dos patrocinadores, ainda que isto custe o empobrecimento intelectual dos que assistem ao programa.

Esta situação, sendo socialmente aceita, tem pretensões de ser incorporada à cultura e legitimada, o que é, no mínimo, um contra-senso! Que uma ou outra pessoa consiga reverter a sua situação particular e encontre um “lugar ao sol”, ao ser descoberto pelas câmeras, não justifica a existência do programa, pois não é um bem aquilo que beneficia o particular, em detrimento do universal. Desta forma, o Big Brother Brasil não pode ser considerado Cultura, no sentido distinto da palavra, e presta um desserviço à população, pois faz com que algo que deveria ser visto com estranheza e com ímpetos de mudança, sobretudo pelos jovens que estão formando o seu caráter, seja visto com naturalidade, passividade e auspiciosamente.

Diante de tudo isto, só nos resta uma questão: podemos considerar como manifestações legítimas de uma cultura todos estes abusos e equívocos? Eles estão no mesmo nível que a obra de Luís da Câmara Cascudo? Ou do legado de Antônio Francisco Lisboa?
Não! E nem precisava tanto, mas estão muito aquém.

PAULO IRINEU BARRETO

Doutorando em Geografia Humana e Cultural no Instituto de Geografia e Mestre em Filosofia - Política e Social, ambos na UFU. É autor de “Ensaio Sobre The Dark Side of the Moon e a Filosofia: uma interpretação filosófica da obra-prima do Pink Floyd”.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

MinC anuncia integrantes da CNIC para biênio 2015/2016

O Ministério da Cultura (MinC) anunciou nesta quarta-feira (21/1), em portaria publicada no Diário Oficial da União, a nova composição da Comissão Nacional de Incentivo à Cultura (CNIC) para o biênio 2015/2016. O colegiado é formado por 21 integrantes, sendo sete titulares e 14 suplentes, das seguintes áreas: artes cênicas (circo, dança, teatro, ópera); audiovisual; música; artes visuais (digital, design, moda, fotografia); patrimônio cultural (material e imaterial); humanidades (livros, periódicos, publicações) e empresariado nacional (multiprodutos).


Composto por representantes da classe artística, empresarial, sociedade civil e do Estado, a CNIC tem a função, entre outras, de analisar e oferecer pareceres para subsidiar decisões relativas à aprovação dos projetos culturais que se candidatam à captação de recursos de renúncia fiscal por meio da Lei Rouanet.
 
A escolha dos integrantes da CNIC é feita pelo ministro da Cultura, com base em uma lista de 42 nomes indicados por 28 entidades habilitadas. A seleção deve levar em conta, além das áreas temáticas, a representação das cinco regiões do Brasil. 
 
A Comissão reúne-se mensalmente para avaliar os projetos. Seis reuniões são em Brasília, e outras cinco, itinerantes, em cada uma das regiões do País. O trabalho dos integrantes da comissão é voluntário, ou seja, não é remunerado. Os integrantes da CNIC recebem ajuda de custo para participar das reuniões.
 
Em 2013 e 2014, a CNIC aprovou 10.010 projetos, que foram autorizados a captar R$ 8.367.280.102,19, dos quais R$ 1.769.675.957,63 foram efetivamente captados. 
 
A posse dos novos integrantes da Comissão será na semana de 2 a 6 de fevereiro.

Conheça os integrantes da CNIC para o biênio 2015/2016

Artes Cênicas
Titular: Sheila Machado de Aragão (Associação dos Produtores de Teatro Independente)
1º Suplente: Getúlio Henrique Rocha Lima (Instituto Escola do Teatro Bolshoi no Brasil)
2º Suplente: Robson Silva Santos (Associação Brasileira de Circo e Cooperativa Brasileira de Circo)
 
Artes Visuais
Titular: Carlos Francisco Amorim de Carvalho (Rede de Produtores Culturais de Fotografia do Brasil)
1º Suplente: Roberto de Souza Leão Veiga (Associação Nacional das Entidades Culturais)
2º Suplente: Heleninha Botelho de Campos Coelho (Sindicato Nacional dos Artistas Plásticos)
 
Audiovisual
Titular: Indaiá Freire da Silva (Associação Brasileira de Produtores Independentes de TV)
1º Suplente: André Muniz Leão (Associação Brasileira de Documentaristas)
2º Suplente: Sandro Manfredini (Associação Brasileira de Desenvolvedoras de Jogos Digitais)
 
Empresariado Nacional
Titular: Anna Paula Montini (Confederação Nacional das Instituições Financeiras)
1º Suplente: Gilberto Rodrigues Figueiredo (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo)
2º Suplente: José Paulo Soares Martins (Confederação Nacional da Indústria)
 
Humanidades 
Titular: Eduardo Reis Silva (Câmara Brasileira do Livro)
1º Suplente: Marcelo Luciano Martins di Renzo (Associação Brasileira de Editoras Universitárias)
2º Suplente: Maria do Socorro Sampaio Flores (Associação Nacional das Livrarias)
 
Música 
Titular: Amilson Teixeira de Godoy (Conselho Brasileiro de Entidades Culturais)
1º Suplente: Arthur Barbosa Neto (Brasil Música e Artes)
2º Suplente: Janete de Fátima Andrade (Instituto Pensarte)
 
Patrimônio
Titular: José Armênio de Brito Cruz (Instituto dos Arquitetos do Brasil)
1º Suplente: José Leme Galvão Júnior (Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios)
2º Suplente: Rosangela Marques de Britto (Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Museus)

Calendário da CNIC para 2015

  • 2 a 6 de fevereiro (posse e treinamento) – Brasília (DF)
  • 10 a 12 de março – Catalão (GO)
  • 14 a 16 de abril – Brasília (DF)
  • 12 a 14 de maio – Criciúma (SC)
  • 9 a 11 de junho – Brasília (DF)
  • 7 a 9 de julho – Cidade do Norte a ser definida
  • 4 a 6 de agosto – Brasília (DF)
  • 1 a 3 de setembro – Cidade do Sudeste a ser definida
  • 6 a 8 de outubro – Brasília (DF)
  • 10 a 12 de novembro – Cidade do Nordeste a ser definida
  • 8 a 10 de dezembro – Brasília (DF)

Fonte: 
Assessoria de Comunicação
Ministério da Cultura

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Morre Humberto de Maracanã, ícone do bumba meu boi no Maranhão.

Ele morreu de falência múltipla dos órgãos nesta segunda-feira (19).
Humberto era cantador do bumba meu boi de matraca 'Boi de Maracanã'.
Humberto de Maracanã com Alcione no São João, no Maranhão (Foto: Reprodução / Instagram: alcionemarrom)
Humberto de Maracanã com Alcione no São João, no Maranhão (Foto: Divulgação / Alcione Oficial)

Morreu, aos 75 anos, às 16h10 desta segunda-feira (19), em São Luís, o cantador Humberto Barbosa Mendes, do bumba meu boi de matraca "Boi de Maracanã". Ele estava internado no Hospital Carlos Macieira desde o dia 13 de janeiro com um quadro de infecção generalizada e veio a óbito por falência múltipla dos órgãos em decorrência de choque séptico, segundo o hospital.
De acordo com a família, Humberto passou mal quando estava em casa, na última terça-feira (13), e foi levado às pressas para o hospital, onde deu entrada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e ficou sob "sedação" e "ventilação mecânica". Ele havia passado por uma cirurgia de amputação da perna esquerda, apresentou melhora após o procedimento, mas permanecia em estado grave.
Calou-se a voz do cantador. O Guriatã voou para perto de Deus. A nossa brincadeira mais popular do São João, o bumba meu boi, está de luto"
Cantora Alcione, no Instagram
O velório foi realizado no barracão do Boi de Maracanã, no bairro homônimo, desde a noite dessa segunda-feira. O corpo foi enterrado no cemitério da comunidade, próximo ao local do velório.
Ícone
Humberto nasceu em São Luís, no dia 2 de novembro de 1939, era casado e pai de 22 filhos. Mestre em cultura popular reconhecido pelo Ministério da Cultura, ele também foi premiado como mestre da cultura brasileira no 23º Prêmio da Música Brasileira.

Há mais de 40 anos fazia parte de um dos mais tradicionais grupos de bumba meu boi, no sotaque de matraca, o Boi de Maracanã, do qual era compositor e intérprete de toadas desde os 12 anos.
Aos 34 anos, tornou-se mestre do grupo e foi batizado como "Humberto do Maracanã". Ele era reconhecido pela interpretação da toada que se tornou símbolo do São João do estado maranhense, "Maranhão, Meu Tesouro, meu Torrão", música que também foi já gravada pela cantora maranhense Alcione.
Repercussão
A "Marrom" Alcione postou uma foto ao lado do cantador no Instagram e lamentou a morte. Na legenda, ela diz que se junta à tristeza da comunidade do Maracanã.

"Calou-se a voz do cantador. O Guriatã voou para perto de Deus. A nossa brincadeira mais popular do São João, o Bumba-Meu-Boi, está de luto. Humberto, o Maracanã está triste, eu sei, mas junto à minha tristeza, a de todos. O céu tem mais uma estrela. Deus te abençoe. (ALCIONE)"
Luto oficial
Em razão da morte, o governo do Maranhão decretou luto oficial de três dias e emitiu nota de pesar. Leia a íntegra da nota abaixo:

NOTA DE PESAR
O Governo do Maranhão externa pesar pela morte do mestre do Boi de Maracanã Humberto Barbosa Mendes e decreta luto oficial de três dias.
Humberto de Maracanã, como era conhecido, era mestre do boi desde 1972. O cantador acompanhava a tradição do boi desde a infância, quando, já aos 12 anos, começou a atuar como compositor e intérprete. Tornou-se cantador aos 34 anos e era reconhecido pelo Ministério da Cultura como Mestre em Cultura Popular.
Humberto nasceu em 2 de novembro de 1939 e faleceu às 16h10 desta segunda-feira (19) por falência múltipla dos órgãos em decorrência de choque séptico.
A família de Humberto de Maracanã informou que o velório ocorrerá inicialmente na casa do cantador de onde seguirá para a quadra do Boi de Maracanã. Sobre o enterro, a família ainda não decidiu o local.
A Prefeitura de São Luís também encaminhou nota de pesar à imprensa, às 19h11. Leia a íntegra da nota da prefeitura abaixo:
A Prefeitura de São Luís lamenta o falecimento do cantador do Boi de Maracanã, Humberto de Maracanã, na tarde desta segunda-feira (19), vítima de infecção generalizada. Mestre da cultura popular, Humberto tornou-se ícone da tradição de uma das manifestações mais populares do Maranhão, o Bumba-meu-boi. O cantador começou a compor e interpretar toadas aos 12 anos de idade. Aos 34, assumiu o comando e a voz do Boi de Maracanã.
Reconhecido pelo Ministério da Cultura como "mestre em cultura popular", Humberto foi um dos maiores divulgadores da tradição musical maranhense. No Carnaval de 2014, foi homenageado pelo Bloco Organizado Dragões da Madre Deus, durante o desfile da Passarela do Samba.Um dos símbolos do São João do Maranhão, o cantador é autor da toada "Maranhão, Meu Tesouro, meu Torrão".
O prefeito Edivaldo solidariza-se com a família e com os amigos, com votos de conforto e de paz.
Fonte: G1 Maranhão

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Discurso de posse de Juca Ferreira


Brasília, 12 de janeiro de 2015
 
Bom dia a todos e a todas!
 
Quero agradecer este carinho, esta manifestação de expectativa positiva no meu trabalho como ministro. É evidente que isso é um reconhecimento do que já foi feito como ministro no governo Lula, tenho muito carinho por isso, por esse apoio. Então queria, em primeiro lugar, agradecer a presença de vocês, agradecer a presença de representantes do corpo diplomático, dizer que tenho a intenção de fortalecer as relações culturais do Brasil, como parte da nossa diplomacia, com os nossos irmãos da América Latina, da América do Sul, com países africanos, árabes, com a Europa, os Estados Unidos. Um país que tem a importância que o Brasil tem no mundo não pode descuidar das relações culturais com os outros países.
 
Então, queria saudar e reconhecer na presença de vocês aqui o início de um trabalho conjunto para que a gente de fato ultrapasse os limites atuais e constitua uma diplomacia cultural que não é só apresentar a cultura brasileira no exterior, mas é também receber com muito carinho o que é produzido pelos outros povos.
 
Queria saudar os ministros aqui presentes, o apoio que significa esse conjunto de representação do governo. Queria agradecer, em nome de todos, na figura do ministro Mercadante, que tem manifestado todo apoio para que eu possa fazer o trabalho da melhor maneira possível. Então essa presença dos ministros aqui me é cara, principalmente porque a cultura tem interface com praticamente todas as dimensões da vida humana, e como ele representa outras políticas públicas, outras realizações de direitos. Em parte, o que vou fazer depende da relação institucional com os outros ministérios. Queria então ressaltar isso e dizer que vamos trabalhar juntos e procurar fazer o melhor possível.
 
Eu queria agradecer à minha mulher Celina, a meu filho Vicente, à minha filha Dandara, só não está aqui o pequenininho que fez ontem quatro anos, que um evento desse tipo é muito maçante para ele e ele iria quebrar o protocolo excessivamente.
 
Queria também saudar a secretária-executiva do Ministério da Cultura, Ana Cristina, que acaba de se manifestar; Carlos Gabas, que já é meu amigo e está me convidando para dar um passeio de moto; Tereza Campello, ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Arthur Chioro, ministro da Saúde, com quem temos também possibilidades de trabalho. Quando era ministro, fortalecemos muito a relação do Ministério da Saúde com o atendimento a pessoas portadoras de distúrbio mental. Foi muito importante a experiência da cultura e da arte como um instrumento de recomposição e reestruturação da subjetividade de algumas pessoas.
 
O ministro do Turismo, Vinícius Lages, com quem já combinamos de ter parcerias; Miguel Rosseto, com quem construímos uma amizade durante a campanha e por quem tenho muito respeito e admiração; Nilma Gomes, ministra das Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República, não sei se ela notou como foi bem aplaudida pela área cultural. A relação é intrínseca porque a contribuição dos africanos que vieram escravizados para o Brasil foi e é fundamental para a singularidade cultural brasileira. É preciso, numa parceria entre nós, recompor e possibilitar construir de fato um país de iguais dentro das suas singularidades.
 
Eleonora, ministra da Secretaria da Política para as Mulheres, uma dimensão importante no nosso tempo e temos garantia de trabalho juntos; o embaixador Samuel Pinheiro, com quem também desenvolvemos uma amizade grande na reflexão sobre as questões estratégicas do brasil e eu defendo que a cultura é uma dimensão estratégica do Brasil. Garantir o desenvolvimento cultural para todo o povo brasileiro é fundamental.
 
Queria saudar também a deputada Jandira Feghali, que é um bastião da cultura dentro do parlamento. Queria saudar os secretários estaduais e municipais na figura do secretário Jorge Portugal, da Secretaria de Cultura da Bahia, poeta, autor de uma das letras mais bonitas da nova canção baiana, que é Alegria da Cidade; o secretario Guilherme Varela, que trabalha comigo e que vai ser um apoio importante. Queria em nome dele saudar toda a equipe que está possibilitando que a transição seja a melhor possível e que eu tenha a possibilidade de já hoje mesmo começar a trabalhar; os presidentes das vinculadas da secretaria.
 
Queria saudar também todos os funcionários e trabalhadores do Ministério da Cultura, não há possibilidade de sucesso de políticas publicas de cultura se nós não tivermos de fato uma valorização dos que trabalham no Ministério; todos os secretários do Ministério, a imprensa presente, demais autoridades, o senador Donizeti Nogueira, também queria saudá-lo.
 
Não precisaria dizer porque é visível, mas é com enorme alegria e profundo senso de responsabilidade que chego para este reencontro. Em 2003, o presidente Lula convidou Gil para um reencontro do Brasil consigo mesmo. A reeleição da presidenta Dilma Rousseff é a confirmação de que este desejo permanece vivo, pulsando no coração dos brasileiros. De um país que hoje é muito mais orgulhoso de si, decidido a promover mais mudanças e a avançar criativamente na agenda de suas reformas estruturais. Mais uma vez, o povo brasileiro soube soberanamente fazer suas escolhas.
 
Aceitei, honrado e orgulhoso, o convite que me foi feito pela presidenta da República. Como Dilma, fiz oposição à ditadura e a ela sobrevivi. Como Dilma, também me comove pensar que uma geração de sobreviventes venceu e permanece na luta pela construção desta democracia popular, mestiça e tropical, que tantas paixões alimenta em seus filhos. Como Dilma, tenho profundo amor pelo Brasil, fé em nosso povo e esperança em nosso futuro comum. O Brasil foi o grande sonho de nossa geração e continua nos inspirando a não fugir da luta.
 
Nosso projeto coletivo de nação já superou barreiras históricas.  Estamos vencendo a fome, reduzimos drasticamente a extrema pobreza e reconquistamos o direito de sonhar.
Promovemos uma das maiores mobilidades sociais que se tem notícia na história. Nos tornamos referência mundial na redução das desigualdades.
 
Mas a redução das desigualdades econômicas não basta! É preciso avançar com firmeza e determinação também na redistribuição do poder simbólico e político no Brasil com a democratização da produção e do acesso ao conhecimento e à cultura. No momento em que o mundo assiste a uma situação dramática de radicalização de extremismos, é preciso enfrentar também aqui discursos de ódio, o preconceito social e regional, o racismo, o machismo, a homofobia, a xenofobia e todas as demais formas de segregação cultural. Na verdade, banalizamos a violência. São muitos os fantasmas culturais que ainda assombram as nações democráticas. Todos eles estão a nos exigir uma revolução cultural, mudança de comportamento, sensibilidade e visão de mundo.
 
Também queremos uma democracia vigorosa, ampla e profunda no Brasil. Que contemple a igualdade de oportunidades para todos e que seja pautada no mais amplo respeito às diferenças e singularidades. Presentes não apenas na vida material, mas também na experiência sensível.
 
A cultura se afirma como um dos elementos constitutivos da própria democracia.  É ela quem qualifica e dá sentido à experiência humana, ao estabelecer os laços da vida social. Somente a cultura pode agregar valor ao desenvolvimento e abrir caminho para a inovação no seio da sociedade. Entendida deste modo, a cultura se coloca na centralidade da agenda pública contemporânea, permeando todos os campos da vida social, todas as áreas do conhecimento, como algo inerente ao próprio ser humano.
 
Com entusiasmo, recebemos a sinalização da presidenta da República de que a educação é a grande prioridade deste seu novo mandato.
 
Não existe educação democrática e libertadora sem o que a cultura pode oferecer. A produção e fruição cultural se qualificam a partir de práticas educacionais abrangentes e inovadoras.
 
O Brasil já é uma das maiores economias do mundo, nossa magnitude populacional e a gigantesca diversidade da nossa produção cultural e artística são verdadeiros tesouros nacionais. Uma grande nação precisa ter um desenvolvimento cultural à altura de sua grandeza. É a cultura que dá liga à cidadania. É ela que nos torna brasileiros, de norte a sul deste país. A cultura deve ser parte central do país democrático e plural que queremos. A pluralidade é nossa singularidade.
 
É muito bom estar de volta. É muito bom! E é melhor ainda fazê-lo olhando pra frente.
O entendimento da cultura como elemento central do desenvolvimento me aproximou do prefeito de São Paulo: Fernando Haddad, não por acaso, ex-ministro da Educação do Brasil.
É este entendimento da cultura como elemento central da própria experiência democrática que me traz novamente ao posto de ministro da Cultura do Brasil. A experiência da política é, nas sociedades democráticas, uma disputa de sentido, uma disputa simbólica e de valores. É precisamente através dela que se atribui dimensão ética e estética à vida pública, que se forma uma cultura política. E é por via da cultura política que o exercício da vida pública se qualifica de modo republicano e democrático.
 
Reassumo revigorado. Convencido de que foi o fôlego e a resistência de um projeto coletivo que me trouxeram de volta para levar adiante a política cultural que iniciamos em 2003.
As escolhas que o século XXI exige de nós não são as mais fáceis. Nas últimas décadas, devotei minha vida à cultura e ao meio ambiente, tema que me é muito caro. Por isso afirmo, de antemão, que a superação de um modelo de civilização que estabelece relação predatória e insustentável com o planeta exige engajamento de todos nós.
 
Neste momento da história da humanidade, precisamos, sobretudo no Brasil, de uma mudança de mentalidades e comportamento que a cultura pode promover.
 
Há doze anos iniciamos uma jornada que colocou a cultura no centro do projeto de nação. Que passou a reconhecer a nossa diversidade cultural como elemento estratégico da construção do Brasil no século XXI.
 
As políticas culturais que nasceram com o presidente Lula passaram a ser reconhecidas nacional e internacionalmente pelo seu aspecto inclusivo, libertário e inovador.
Reafirmamos nossos compromissos com as três dimensões das políticas culturais: cultura como dimensão simbólica, cultura como direito de todos e a cultura como uma economia importante.
 
Conto com a ajuda dos criadores, de todos os artistas, ativistas e fazedores de cultura para ampliarmos a capacidade de realização do Ministério. Será um grande passo conquistar a aprovação da PEC da Cultura. Além do apoio de nossa presidenta, tenho certeza que a nova equipe econômica, ainda que desafiada a promover um ajuste fiscal em nosso país, será sensível a essa necessidade. Sem orçamento público e gestão qualificada não conseguiremos realizar nossos anseios. Recursos do pré-sal poderão ser, num futuro breve, definidores de um novo momento para as políticas culturais de nosso país. Como disse o rapper Gog: o pré-sal é o nosso pré-sol.
 
Nos últimos dois anos, o Vale Cultura começou a se tornar realidade! Estamos comprometidos com a aceleração de seu processo de implantação, tornando-o um importante instrumento de ampliação do acesso à cultura e de dinamização do mercado cultural interno.
 
O audiovisual brasileiro já tem hoje uma das políticas setoriais mais robustas do mundo. O grande desafio deste novo período que se abre é justamente vencer o gargalo da exibição e da circulação dos conteúdos, garantindo o melhor aproveitamento público do ambiente digital, oferecendo toda a liberdade criativa para as novas mídias, linguagens e estéticas que emergiram nos últimos anos, e que surgirão nos próximos, redefinindo a própria cultura. Neste contexto, a comunicação deve ser entendida como um direito essencial para a realização plena dos direitos culturais.
 
Acredito na complementariedade de papéis e na colaboração institucional entre a Secretaria do Audiovisual e a Agência Nacional do Cinema. O audiovisual que o Brasil financia precisa estar acessível a todos os cidadãos.
 
Reafirmamos o compromisso com o Plano Nacional de Cultura, instrumento central de planejamento de médio e longo prazo das políticas culturais.
 
Reassumindo como ministro da Cultura do Brasil, reafirmo nosso compromisso com dezenas de milhares de artistas, produtores e grupos culturais, que mesmo nos ambientes mais vulneráveis, em meio à pobreza e à violência, têm proporcionado a estas populações, muitas vezes, a única oportunidade de deleite estético e de acesso à cultura.
 
Volto ao MinC com a Lei Cultura Viva vitoriosamente aprovada por força de mobilização da sociedade. Esta lei abre o horizonte para uma maior segurança jurídica no relacionamento entre organizações da sociedade e o Estado, e nos possibilita criar fluxos muitos mais horizontais e transparentes de gestão da política pública em rede.
 
Retomaremos a agenda de modernização da legislação de direito autoral. O ambiente digital se desenvolve e se transforma rapidamente, e nossas leis devem acompanhar as novas práticas sociais que surgiram com as novas tecnologias para termos condições de garantir, de fato, os direitos dos autores no Brasil.
 
Implementaremos a Lei que prevê a supervisão do Estado sobre as atividades de gestão coletiva de direitos autorais. Essa lei foi uma conquista da mobilização de autores e artistas, que entenderam que o Estado pode e deve auxiliar os criadores na garantia de seus direitos.
 
Assim caiu um primeiro mito. O próximo mito a cair será aquele que duvida que a ampliação do acesso aos bens culturais, proporcionada pelo ambiente digital, só poderia se dar causando prejuízos para os criadores.
 
O ambiente digital pode sim ser regulado de forma que os criadores tenham novas formas de remuneração pelo seu trabalho criativo. A modernização da legislação pode beneficiar tanto aos criadores quanto atender às demandas dos cidadãos de acessar e compartilhar cultura e conhecimento, respondendo à tarefa imposta pelo Marco Civil da Internet.
 
Precisamos aprimorar o sistema de financiamento da cultura. Faremos um esforço conjunto com o Congresso Nacional nos próximos meses para aprovação do ProCultura. A cultura brasileira não pode ficar dependente dos departamentos de marketing das grandes corporações. Queremos mais investimento na cultura e esta também deve ser uma das responsabilidades sociais da iniciativa privada. Não tenham dúvidas disso. Mas queremos que essa conta seja paga com responsabilidades partilhadas.
 
Trago da experiência anterior a convicção de que o Brasil precisa de uma vigorosa para as artes, em escala nacional e com efetiva capacidade de penetração em todos os territórios e rincões do país. É por via deste caminho que afirmaremos definitivamente o Brasil como uma potência estética global, surgida do encontro entre todas as humanidades, da orgulhosa mestiçagem das culturas que aqui coexistem e que mutuamente se transformam neste nosso país do remix.
 
Nada, nada deve ficar de fora de nossa atenção: da literatura às artes visuais, às expressões identitárias, aos conhecimentos, à memória; dos valores à economia da cultura; bem como a moda, a arquitetura, a cultura digital, a cultura alimentar, o design.
O momento é de construir um pacto que una amplos setores da cultura brasileira, de todas as regiões, articulados em torno de um projeto de desenvolvimento e democratização de todas as artes, tanto no nível da produção, quanto da fruição.
 
Estou a par de muitas das dificuldades enfrentadas pelos servidores, das demandas por melhoria nas condições de trabalho e remuneração. Precisaremos de um esforço de planejamento capaz de dotar o Ministério da Cultura das condições de realização de sua missão institucional, qualificando e modernizando a gestão. Eu acredito em um Estado eficiente e eficaz. Essa será uma luta que teremos que enfrentar juntos.
 
Sempre fui um defensor do diálogo como tecnologia de construção democrática. Da primeira vez que fui ministro, antes da posse, disse que minha marca seria "diálogo, diálogo, diálogo", e foi. Em São Paulo, assim que cheguei para assumir a Secretaria de Cultura do prefeito Fernando Haddad, lançamos um programa chamado #ExisteDialogoemSP. Diálogo, portanto, é um pressuposto de nossa gestão. E o realizaremos por meio de um amplo programa de participação social. Essa abertura será exercida não apenas por meio de uma reativação vigorosa do Conselho Nacional de Políticas Culturais, do fomento à realização das Conferências de Cultura, pela presença constante no diálogo com o parlamento, mas também lançando mão dos muitos mecanismos contemporâneos de construção e deliberação on-line, com a ativação de um Gabinete Digital cujo intuito será o de dar transparência absoluta a nossos atos e de ser uma interface de cogestão, aberta e colaborativa, com os cidadãos.
Isso também nos coloca na dianteira de uma interlocução que queremos estreitar na nova gestão: o nosso diálogo com as redes políticos-culturais e os movimentos de novo tipo que emergiram no país durante os últimos 12 anos. Esses movimentos representam um novo impulso democrático inspirado naquele esforço de participação que realizamos durante nossa gestão anterior. Quero agora poder contar com o apoio e a parceria desse universo renovador na construção de soluções e alternativas para a efetivação de nosso projeto republicano de cultura. Principalmente frente aos desafios próprios das cidades de médio e grande porte do nosso país, onde se concentra a maioria de nossa população, e onde se realizam as principais disputas de modos de vida do Brasil contemporâneo.
 
Reafirmo o lugar do Ministério na interlocução atenta com os demais movimentos sociais, com os camponeses, estudantes, com os que lutam por moradia, saúde, educação, direitos humanos, juventude e na interlocução com os povos indígenas. O Brasil democrático precisa garantir o lugar da nossa população indígena, suas culturas e modo de vida.
 
Também espero construir uma relação virtuosa com os artistas e os criadores culturais. Nada mais equivocado do que acreditar que a ampliação do conceito de cultura reduz o lugar da arte no projeto estratégico que vamos empreender. E isso que vou dizer é o manifesto como entendo isso. A arte é aquilo que nos permite ver além, é o meio pelo qual acessamos a essência e a transcendência do humano.
 
Estou caminhando para o fim dessa fala inaugural, sabendo que ela é só o começo de uma longa jornada.
 
Criar, fazer e definir obras, temas e estilos é papel dos artistas e de quem produz cultura. Escolher o que ver, ouvir e sentir é papel do cidadão. Agora, criar condições de acesso, produção, difusão, preservação e livre circulação, regular as economias da cultura para evitar monopólios, exclusões e ações predatórias, democratizar o acesso aos bens e serviços culturais: essa é a responsabilidade do Estado democrático.
 
Volto pedindo licença para andarilhar entre nosso povo, unindo estes esplendorosos Brasis. O Brasil das aldeias indígenas e das lan houses, das orquestras sinfônicas e das folias de reis, dos artesãos e dos hackers, dos mestres da tradição e dos intelectuais; dos cientistas e das tribos urbanas, dos pescadores e dos industriais. O Brasil dos grandes artistas e das pequenas trupes de circo. O Brasil de Jesus e de Oxalá, de Tupã e de Iara, de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, de Yemanjá e d'Oxum, do acarajé e do tucupi, da juventude negra e do baile funk, de Serra Pelada e do Cariri. O Brasil do Xingu e de Vila Mimosa, de Brasília Teimosa e de Xapuri, do Céu do Mapiá, de Aparecida do Norte e do Ilê Axé Opó Afonjá, do futebol de várzea e do carnaval de rua.
 
O MinC volta a ser o espaço da experimentação de novos rumos! O MinC está de volta para o futuro. O lugar da memória e da inovação, das raízes tradicionais e da nova ousadia criativa, da imaginação e da invenção, reconvocadas a colaborar com o Brasil. Viva o povo e a cultura brasileira!

Fonte: Assessoria de Comunicação
Ministério da Cultura

domingo, 11 de janeiro de 2015

Carnaval: Governo do Estado lança edital para patrocinar escolas de samba.

Neste ano, assim como nos demais, regulamento, jurados e ordem de apresentação ficam por conta das escolas de samba de Manaus – foto: Arthur Castro

O Governo do Estado vai destinar R$ 3.545.213,00 em patrocínio que serão distribuídos as escolas de samba de Manaus de quatro grupos. A Secretaria de Estado da Cultura lançou nesta sexta-feira (9) o edital de credenciamento de patrocínio para o Carnaval 2015, que acontece de 12 a 14 de fevereiro, no Sambódromo.
O prazo para inscrição vai até o dia 19 de janeiro. E a apresentação da documentação para o credenciamento pode ser feita na SEC (Av. Sete de Setembro, 1546, Anexo ao Centro Cultural Palácio Rio Negro, Centro).
O edital e seus anexos, que estão disponíveis no site http://www.editaisculturamazonas.com/ desde a noite de sexta (09), são destinados a todas as escolas de samba do grupo Especial e às dos grupos de acesso A, B e C.
“Nosso compromisso é, acima de tudo, com o povo. E o Carnaval é uma das maiores manifestações da cultura popular do nosso Estado, por isso estamos acelerando o quanto podemos as providências para que essa festa seja um sucesso”, disse o governador do Amazonas, José Melo.
Recursos
Neste ano, assim como nos demais, regulamento, jurados e ordem de apresentação fica por conta das escolas de samba. O governo entra com o patrocínio que será distribuído da seguinte forma: R$ 264.113,00 para cada escolar do Grupo Especial, que totalizam nove escolas; R$ 124.156,00 para cada escolar do Grupo de Acesso A, que reúne seis escolas; R$ 62.078,00 para cada escolar do Grupo de Acesso B, no total de cinco; e R$ 22.574,00 para cada escolar do Grupo de Acesso C, que soma cinco também.
Todos os itens que constam no edital foram discutidos em uma reunião realizada na manhã desta sexta entre os representantes das escolas de samba e o secretário de Estado de Cultura, Robério Braga.
*Com informações da assessoria

Confira o Edital: