quarta-feira, 1 de junho de 2016

Sujeitos à modernidade, festejos juninos se afastam progressivamente do formato original.

Adeus à tradição


Festas juninas atuais incorporam elementos modernos à tradição.
Na velocidade dos tempos modernos, pautados pelo ritmo de vida desordenado dos centros urbanos, os costumes tradicionais estão progressivamente perdendo forças. Festejos especiais do calendário brasileiro, como o carnaval e a Semana Santa, cada vez mais deixam de lado suas características originais para abraçar uma roupagem moderna que mais privilegia os eventos do que a cultura, antigamente passada de geração em geração. Com os festejos juninos, não é diferente. 
As festas juninas atuais surgiram a partir de celebrações dos povos pagãos europeus, que comemoravam a chegada do solstício de verão e a fartura da colheita, no dia 24 de junho. A festa só foi associada ao nome de São João Batista durante o período da Idade Média. Os festejos logo se popularizaram por diversos países católicos do continente europeu, como Portugal, França e Irlanda. 
No Brasil, as comemorações juninas desembarcaram junto com os colonizadores portugueses que além de São João trouxeram dois outros santos que foram associados às festas: Santo Antônio e São Pedro, cujos dias são comemorados em 13 e 24 de junho, respectivamente. As festas logo foram incorporadas aos costumes da alta corte portuguesa, sempre propensa a imitar os europeus. 
Mais tarde, os festejos foram adotados pela aristocracia rural da região Nordeste e em pouco tempo ganharam as fazendas e os arraiás, agregando à festa costumes e situações corriqueiras da vida no campo. 
Alexis Peixoto


O pesquisador Severino Vicente condena a descaracterização das
quadrilhas juninas.

Neste primeiro momento, as festas juninas ainda deviam algo às tradições européias, mas já começava a incorporar algumas tradições brasileiras e tipicamente nordestinas. Nas festas, dançava-se a quadrilha, que foi originada na França, mas também se dançava o côco de roda, a ciranda, o baião, o forró”, aponta o pesquisador Severino Vicente, da Comissão de Folclore da Fundação José Augusto. 
“Dessas manifestações, a única que ainda permanece ligada aos festejos juninos é o forró, embora de uma forma muito mais moderna”, completa. 
Outra tradição junina de antigamente que praticamente inexiste nos dias atuais, são as famosas simpatias. Durante as comemorações do dia de Santo Antônio era mais do que comum para as moças recitarem pedidos de casamento por meio de versos como “Santo Antônio querido/ Eu vos peço por quem sois/ Dai-me o primeiro marido/ Que o outro eu arranjo depois”. Os rituais ao pé da fogueira, entre afilhado e padrinho, onde o primeiro assumia as responsabilidades sobre o segundo também foram aos poucos sendo abandonados. 
As práticas de soltar balões e acender fogueiras têm sido cada vez mais restritas nas grandes capitais, principalmente devido a questões ambientais e relacionadas à segurança. 


“Hoje em dia o São João urbanizou-se. Perde-se com a falta de estudo, não há compromisso com a tradição”, aponta Vicente, fazendo um adendo. “Não sou contra a modernidade das quadrilhas estilizadas, por exemplo. O que não aprovo é a incorporação de elementos estrangeiros nos festejos. A modernização se estiver em equilíbrio com a tradição, é bem vinda. O que não pode é a descaracterização”, finaliza. 



Conheça a origem de alguns elementos típicos das festas juninas:



Fogueiras:  Existem duas versões que explicam a origem da fogueira nos festejos juninos. A primeira diz respeito ao costume pagão de acender fogueiras em comemoração a chegada do solstício de verão. Já a tradição católica, aponta para um acordo feito pelas primas Maria e Isabel. Para avisar Maria sobre o nascimento de São João Batista e assim ter seu auxílio após o parto, Isabel teria de acender uma fogueira sobre um monte. 



Fogos de artifícioNo Brasil, os fogos de artifício são utilizados para despertar São João Batista que, segundo a tradição católica dorme durante os três dias de festas juninas. 



Comidas típicas: Junho é o mês mais propício para a colheita do milho. Logo, as comidas típicas das festas juninas, como a canjica, pamonha e o milho assado, utilizam este vegetal como principal ingrediente. 



QuadrilhaA quadrilha surgiu nos salões aristocráticos da França, no século XVIII. Desde então, ganhou diversas releituras em outros países europeus até chegar ao Brasil, por intermédio da corte portuguesa. Em pouco tempo, fundiu-se com outras danças típicas do país e deu origem a popular “quadrilha matuta”. 



Balões: Embora hoje seja uma prática proibida por lei, o hábito de soltar balões servia para avisar as crianças sobre o início da festa.


FonteAlexis Peixoto,