O histórico da atração traz vários comentários preconceituosos e situações problemáticas contra as minorias que tanto lutam para ter suas identidades reconhecidas
Por Artur de Francischi no Prosa Livre
O Big Brother Brasil está, mais uma vez, no ar. O programa está em sua 15ª edição, e é marcado pelas inúmeras situações problemáticas protagonizadas pelos participantes e pela produção do mesmo, que pouco faz para corrigi-las. Se pegarmos o BBB como reflexo da nossa sociedade, veremos que está tudo ali: racismo, misoginia, homofobia e apagamento de pessoas trans.
Na edição de 2012, por exemplo, houve um caso de estupro, onde o participante acusado foi expulso da atração, numa das raras ações assertivas do Big Brother Brasil. Mas isso não aconteceu antes de uma manifestação na internet e uma ação da Polícia Civil.
Neste ano um dos “brothers”, sem qualquer cerimônia, contou ter espancado uma mulher em duas situações, na segunda a moça chegou a ficar inconsciente. Douglas foi eliminado pelo voto popular e, ao sair da casa, disse estar arrependido do que fez e que hoje é até “feminista“.
Eu já falei bastante sobre o assunto aqui no blog. Homem que quer ser feminista tem que ir além do discurso de “salários iguais para todos”. Homens, enquanto agentes da opressão sobre as mulheres, precisam desconstruir esses ideais de masculinidade embutidos e ensinados a nós. É bacana que você queira que todos recebam o mesmo salário, mas uma sociedade igualitária precisa mais do que um discurso bonito.
Por fim, nesta terça uma das poucas participantes negras foi eliminada, a Angélica. Não assisto ao BBB, mas acompanhei o racismo sofrido pela “sister” na internet. A hashtag #AngelicaoBrasilTeOdeia tornou-se um dos assuntos mais comentados no Twitter, onde destilou-se todo o preconceito do brasileiro contra ela. Ao sair da casa, a auxiliar de enfermagem disse que pensa em processar quem a ofendeu, atitude tomada, inclusive, por sua família.
Na eliminação desta terça, o programa perdeu a oportunidade de falar de racismo. Pedro Bial foi conversar com a mãe da ex-participante. Ao vê-la feliz, o apresentador perguntou a ela o motivo, ao qual a mãe respondeu:
“Porque o que minha filha estava passando aqui e a gente passando lá fora. Estava pedindo a Deus, aos meus orixás, ao meu pai Ogum, minha mãe Oxum, porque a gente estava sofrendo demais aqui fora com o racismo”.
Dito isso, Bial cortou a conversa. Se dentro do Big Brother Brasil Angélica tocou diversas vezes no assunto, do lado de fora o apresentador pareceu querer silenciar a ela e sua família. “Não há tempo suficiente para comentar sobre isso”, alguns podem pensar. Mas quando teremos tempo para falar sobre racismo, então?
O BBB é uma vitrine da sociedade atual. Os exemplos citados nesse post são só dois casos recentes desta edição, que ainda teve um participante (possivelmente Rafael) comemorando não ter homossexuais neste ano na casa. O histórico da atração também traz vários outros comentários preconceituosos e situações problemáticas contra as minorias que tanto lutam para ter suas identidades reconhecidas.
“A nave louca”, como se refere Pedro Bial, poderia ser algo de outro mundo mesmo. Infelizmente, é só reflexo real do que é o brasileiro.
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